Natureza Divina. Natureza Decaída. Purusha & Prakrti

Nebulosa Cabeça de Cavalo,
vista pelo telescópio Hubble.

O que segue pode ser lido e entendido por qualquer um que o queira. Mas é especialmente dirigido aos que participaram de nosso encontro de estudos do dia 17 de dezembro passado. 

Todos enfrentamos o conflito interno entre como somos em nossas vidas e como gostaríamos que tudo fosse. 
O que a prática de Kriya Yoga propõe é um processo de depuração da nossa consciência para que encontremos o ponto equilibrado em que nos tornamos plenos dentro de nós e em nossas vidas e finalmente livres desse conflito. Isso se dá através de um método que equilibra respiração, batimento cardíaco, magnetismo do sistema nervoso, metabolismo, pensamento, psique e instâncias ainda mais elevadas e menos conhecidas daquilo que traduz o nosso eu, em tempo e espaço. 

Kriya Yoga é Yoga na sua fonte original e não deve ser confundido com o que é chamado popularmente de Yôga, ginásticas de alongamentos que nasceram modernamente de um dos desdobramentos do Yoga Clássico, o Hatha Yoga. Essas ginásticas são práticas físicas, em alguns casos penosas, com objetivos mais voltados ao bem estar e beleza materiais. Não raramente alguns professores dessas práticas misturam em suas aulas interpretações apressadas e superficiais de escrituras védicas com citações de auto-ajuda e modismos new-age, aumentando ainda mais a confusão para quem quer saber o que é realmente Yoga. Desde que praticada com um professor responsável e sem excessos de narcisismo, essas ginásticas podem sim trazer benefícios, do mesmo modo que Pilates ou Tai Chi. Mas não são Yoga em sua raiz, apenas um seu reflexo, um de seus muitos galhos. 

Kriya Yoga é Yoga em sua acepção original: Um sistema filosófico psicossomático que desencarcera purusha de seu entrelaçamento nesta prakrti.

E o que querem dizer essas palavras sânscritas, purusha e prakrti?

Traduzir sânscrito é impossível. Não existem palavras equivalentes na maioria dos idiomas e não raramente um bom dicionário sânscrito irá trazer muitas dezenas de possíveis traduções para uma única palavra. Há teóricos linguistas que afirmam tratar-se de um idioma morto, que ninguém mais fala. O que nós estudamos em nossa tradição da linhagem Kriya iniciada por nosso professor Lahiri Mahasaya em meados do século XIX, é que o sânscrito nunca foi falado para assuntos triviais. Em nenhum momento do passado alguém foi até o mercado comprar cocada, em sânscrito. Nem ninguém nunca fez fofocas sobre o vizinho ou comentou o resultado do campeonato, em sânscrito*1. Mais que uma linguagem litúrgica, é um idioma para tratar de assuntos espirituais ou filosóficos e para entender seu significado é necessário elevar o padrão da inteligência. Altas ondas, nem todos surfam. 
O conceito não é inédito. Anos atrás, estudando a etnia indígena Mebêngôkre, aprendi que entre eles existe a extratificação do conhecimento através da linguagem. E uma das formas de linguagem, a mais refinada, de conhecimento espiritual, era restrita a conversas em voz baixa, no seio da noite, na boca dos anciãos.
Então o que podemos fazer quando tentamos traduzir sânscrito, por exemplo, para o português, é conhecermos as inúmeras traduções aproximativas. Mas sem a experiência da consciência yogue, isso sempre será muito pouco e, quando muito, apenas isso: uma aproximação.


Antevista a dificuldade, voltamos a Purusha e Prakrti. 
Prakrti (ou Prakriti) pode ser entendido como Natureza Material, como os elementos constituintes do Universo, a natureza ou forma original de qualquer coisa, o padrão fundamental, o força de vontade investida de existência, o mundo material, etc. 
Purusha é o Ser Cósmico, o Ser Original, o Eu Universal, a fonte original do Universo, o primeiro ser, o homem original, a testemunha de Prakrti, etc.

Poderia se dizer que Prakrti é a matéria e Purusha o espírito. Mas se dissermos assim poderíamos reforçar a falsa ideia de cisão entre matéria e espírito. E não se trata disso, pois Prakrti sustenta Purusha. E Purusha determina Prakrti. 
Não existe dualidade Prakrti-Purusha. Não se tratam de opostos. É a mesma Natureza que originando a si mesma, se faz adormecida para poder despertar.
Retomando o estudo do dia 17 de dezembro passado e a interpretação metafórica de Baba Hariharananda para a Batalha de Kurukshetra, entre dois exércitos. As duas forças pertencem à mesma família (são da mesma origem, mesma raiz). Mas uma delas, os Pandavas, representa o corpo espiritual. A outra, os Kauravas, o corpo biológico. A tensão que escala o conflito e coloca os regimentos em oposição é fruto do desejo dos Kauravas em assumir completamente o controle, associado ao esquecimento dos Pandavas de sua condição original. Os Pandavas deixaram se enredar no complicado jogo dos Kauravas e perderam a própria direção.

Em outras palavras, não se trata de uma dualidade maniqueísta, colocando de um lado o ignorante e perverso corpo biológico e do outro o bom e sábio corpo espiritual. Esta seria uma maneira bem empobrecida e perversa de entender o esplendoroso jogo da existência. Mas sim, existe um mesmo corpo que se expressa biológica e espiritualmente. E a tendência do corpo biológico, quando o corpo espiritual está confundido, é seguir seus impulsos biológicos cegamente. Mas se a luz espiritual está desperta e consciente da Existência Pura, sem precisar se deixar levar pelos flutuantes estados da mente, então os corpos se alinham, e a natureza do corpo biológico se torna a mesma natureza do corpo espiritual. Cessa o conflito.
Trata-se do quarto estado da Consciência descrito no Maanduukya Upanishad, Turiiya, pura consciência da fonte original, distinto dos outros três, acordado, sonhando, em sono profundo.  

Voltando ao Gita e à Batalha e à interpretação de Hariharanandaji, no verso 3 do Capítulo Um, o próprio comando do corpo biológico tem a consciência de que em uma batalha entre a luz e a escuridão, a escuridão desaparecerá quando a luz acender. É inevitável. Entre virtudes e vícios, só existe vício onde não está a virtude. E a virtude não se impõe através do vício do orgulho, do discurso e do falso conhecimento. Ela desabrocha como uma flor quando se concentram as qualidades espirituais luminosas. E esse é o papel da Yoga em nosso corpo biológico: a partir do centro luminoso e elevado que acalma e pacifica nossa natureza material, fazer nascer a consciência das qualidades de luz, som e vibração que permitem emergir nossa fonte Amorosa, Mãe de todas as virtudes, nosso Ser Original em seu intelecto claro e perfeito.

Não é exclusividade dos Vedas essa interpretação filosófica. Quando se fala nos testamentos judaico-cristãos em Natureza Divina e Natureza Decaída, trata-se de uma mesma Natureza que carrega em si o potencial permanente do Despertar e Renascer para o Amor Original. A Natureza é uma só. Não está em oposição a nada, mas apenas aguardando o momento em que você irá se curvar amorosamente ao Coração do Oceano de Luz, eternamente grato pelo milagre da existência. 

Com Amor, 
Yogacharya Céu

*1: Há uma tentativa moderna de se instituir o Sânscrito como idioma do cotidiano em um dos estados da Índia, Uttarakhand (a.k.a. Uttaranchal). Mas isso implica em simplificar e reduzir o próprio significado da linguagem. Será sempre uma adaptação e não mesmo a fala em seu significado original. 

Samadhi


No fundo, entretanto, somos uno com o mundo, muito mais do que estamos acostumados a pensar: sua essência íntima é nossa vontade; seu fenômeno é nossa representação. Para quem pudesse ter clara consciência desse ser-uno, desapareceria a diferença entre a persistência do mundo externo e, depois que se está morto, a própria persistência após a morte.

Arthur Schopenhauer
(Metafísica do Amor, Metafísica da Morte, trad.: Jair Barboza, São Paulo: Martins Fontes, 2000, pág.100)

Swami Sree Yukteshwar
em uma das formas de Jyoti Yoga do Kriya Yoga,
através de Shambhavi Mudra.

Agradecimentos à Cintia Duarte Mamaji

Um Homem Misterioso

foto: Darlene McGee


Disse o sapiente Luqmaan: 


Caminhava eu por uma estrada quando vi um homem sobre o qual havia roupa grosseira.
Perguntei-lhe: “Quem és tu, ó homem?”.
Respondeu: “Um filho de Adão”.
Perguntei: ”Qual o teu nome?”.
Respondeu: “Tenho de ver como me chamarei”.
Perguntei: “O que fazes?”.
Respondeu: “Abandono o mal”.
Perguntei: “O que comes?”.
Respondeu: “Aquilo que ele me dá de comer e beber”.
Perguntei: “De onde ele lhe dá?”.
Respondeu: “De onde ele quiser”.
Eu disse: “Bem-aventurado sejas, consolada seja a tua alma”.
Respondeu: “E o que te impede dessa bem-aventurança e desse consolo da alma?”.

(noite 773, tradução Mamede Mustafa Jarouche)

Lua Cheia, Vesak e Baba



27 de Maio de 1907 foi noite de Lua Cheia. Foi também o dia em que nasceu Rabindranath Bhattacharya, no pequeno vilarejo de Habibpur, às marges do rio Ganges, distrito de Nadia, no estado indiano de Bengala Ocidental, a 65 km de Calcutá.

Em 1932, com 25 anos, Rabindranath é iniciado em Kriya Yoga pelo seu mestre Swami Sree Yukteshwar Giri, com quem passará a viver no Ashram de Karar. Três anos depois recebe a iniciação no Segundo Kriya de seu outro mestre (e também discípulo de Yukteshwar), Paramahansa Yogananda. 
Torna-se monge, recebendo o nome Brahmacharya Robinarayan em 1938. Recebe o Terceiro Kriya de Swami Satyananda Giri, aos 34 anos. No perído de 1943 a 1945 recebe os Quarto, Quinto e Sexto Kriyas de Sree Bhupendranath Sanyal (que assim como Yukteshwar era discípulo direto do primeiro mestre da linhagem, Lahiri Mahasaya).

Em 1948, aos 41 anos, Brahmacharya Robinarayan atinge o Nirvikalpa Samadhi, o estado iogue de mais elevada consciência. 

Aos 52 anos toma o voto formal monástico de Shankaracharya e passa a se chamar Hariharananda Giri. Sua destacada expressão lhe vale o título de Paramahansa, que ele próprio não usava. Torna-se mais conhecido entre seus estudantes simplesmente como Baba.
Em 1971 torna-se o Sadhusabhapati (espécie de presidente) do Ashram de Karar. 
A partir de 1974 inicia suas viagens ao Ocidente. Na América do Sul, chega à Colombia. Teria dito que não havia pessoas aptas a receber sua iniciação em Kriya Yoga no Brasil naquela época, enviando seus Yogacharyas para iniciações apenas em 1999. 
Deixa o corpo a 3 de Dezembro de 2002, sendo considerado este seu Mahasamadhi.


Vaiśākha, em sânscrito, é uma das doze luas cheias que marcam os doze meses do Calendário Lunar. Corresponde à quinta ou sexta Lua Cheia e no Calendário Solar pode ocorrer entre Abril e Maio, eventualmente no começo de Junho.
Veśāka, variante também sânscrita, quer dizer alguém ou algo que entra. 

Essa Lua Cheia, conhecida como Lua de Vesak, é comemorada triplamente como a data abençoada do nascimento, da iluminação e do mahasamadhi do Buddha Gautama, sendo muito celebrada entre os budistas. No entanto, talvez por ser uma lua cheia que ocorre em um período climático muito agradável em todo o mundo (primavera no Norte e outono no Sul), ou por alguma razão que a mente comum não seja capaz de explicar, a Lua de Vesak chama a atenção por sua beleza a todas as pessoas.

A prática de Kriya Yoga não é sectária. Qualquer pessoa, de qualquer religião, ou mesmo ateus e agnósticos podem se beneficiar de sua prática. Não somos particularmente budistas, como alguns acham às vezes por me ver, careca e sentado para meditar. Mas interessantemente, este destacado Guru da Kriya, Paramahansa Hariharananda, veio ao mundo na Lua de Vesak. 


Assim, na data de hoje, 25 de Maio de 2013, quando escrevo estas linhas, não sendo ainda a data do aniversário de Baba pelo Calendário Gregoriano, que comemora apenas no dia 27, é no entanto a data lunar do aniversário. As antigas escrituras védicas citam que a Lua é quem sinaliza a qualidade da entrada e do abandono da experiência da vida no que chamamos de mundo material. E portanto, por esse princípio, hoje é um dia a observar como da entrada do Guru, da Consciência Elevada, da Guia Espiritual, no magnético mundo material. Momento de chamar e receber resposta, instrução e orientação. Auspicioso para a meditação.

Mas todos os dias e noites são. E todos os momentos também.

Com Amor,


Yogacharya Céu D´Ellia



Para uma cronologia mais detalhada da linha do tempo de Paramahansa Hariharananda clique e visite a página ao lado.


Kriya Yoga, uma Autopista Espiritual

Por Yogi Sarveshwarananda Giri


As escrituras iogues explicam que viemos do Infinito, da Bem-aventurança Suprema. Consequentemente, ao passarmos através das várias camadas – o mundo causal, o mundo astral e o mundo físico – adentramos este mundo, e vivemos e crescemos em Bem-aventurança para, finalmente, regressarmos à Bem-aventurança Suprema. 

Embora estejamos aqui apenas como viajantes para experimentar e aprender sobre essa nova forma de Bem-aventurança, não conseguimos viver dessa forma. Não vivemos em estado de plenitude, graça, libertação, de alegria infinita, e esse é o problema que todas as religiões enfrentam e procuram resolver.

Por que não podemos viver num estado puro, pleno, maravilhoso? 

Porque ao nascermos somos acometidos por uma enfermidade característica do mundo físico, chamada maya, que provoca uma espécie de amnésia espiritual de nossa consciência expandida, infinita e eterna. 

Maya é uma palavra sânscrita, que significa medir, dividir, categorizar… é como se passássemos através de um prisma e nos dividíssemos em pequenos egos diferentes e isolados. 

Deus nos concede diversos caminhos e formas para “curarmos” definitivamente esta amnésia espiritual e redescobrirmos a nossa natureza. Há caminhos mais tranqüilos, outros mais intensos, e há também o que poderíamos chamar de “autopistas espirituais”.

Nos anos trinta, o grande visionário e psicólogo Carl Jung descobriu o conceito dos chacras  por meio de livros de ioga e tantra. Após muitos anos de estudo declarou que a consciência humana ocidental não tem acesso aos chacras que estão acima do chacra do coração, o quarto chacra. De acordo com sua teoria, a consciência das coisas mais sutis se encontra majoritariamente no mundo oriental, por terem uma consciência mais inclinada à entrega e ao reconhecimento de Deus em todos os aspectos da vida. 

Foi precisamente na década de trinta que Paramahamsa Yogananda, o grande mestre espiritual e autor da Autobiografia de um Iogue, chegou aos Estados Unidos para difundir os ensinamentos do Ioga Kriya (Kriya Yoga). Yogananda percebeu que havia almas ocidentais que já estavam preparadas para trafegar pela autopista espiritual do Kriya Yoga. 

Com a prática desta técnica podemos concluir o processo de evolução espiritual em uma vida, alcançando o estado de observador, de testemunha desapegada, de entrega e instrumento. Estado que grandes sábios e santos descreveram e manifestaram ao longo da história: “Eu sou um lápis nas mãos de Deus e Deus está escrevendo seu capítulo através de mim” disse Madre Teresa de Calcutá; ou nas palavras de São Francisco: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz”. 

Eis aqui o paradoxo da aceleração espiritual: quanto mais aprendemos a desacelerar e acalmar nossos pensamentos, e a silenciar mais e mais a nossa mente, mais aceleramos nosso progresso espiritual.

Antigamente, na Índia, dizia-se que logo que um bebê nasce, ele chora koham-koham, que significa “Quem sou eu?” . E que o universo responde So’ham, “És o mesmo que Eu”. Kriya Yoga é a metodologia mais rápida e segura para levarmos a cabo este processo, que consiste em nos identificarmos novamente com Deus ou a Realidade Última.


Tradução: Camila Bogea

Semana de Kriya Yoga em São Paulo, 2013

Quando a imaginação cessa, realização se inicia.
(Paramahansa Hariharananda)


De 5 a 12 de Junho de 2013, Yogi Sarveshji esteve em São Paulo para workshops, palestras gratuitas, iniciação em Kriya Yoga e retiro de estudos.

Yogi Sarveshwarananda Giri, biografia breve:


Nascido em Paris, França, em 1959, em uma família de professores viajantes, David Vachon cresceu em diferentes partes do mundo, na Europa, América do Sul e Norte da África.
Formado em Literatura Inglêsa na Grenoble III, com Mestrado em Informação e Comunicação na CELSA, Sorbonne. Bacharelado em Ciência da Acupuntura e Medicina Chinesa em San Francisco (Califórnia, EUA), com graduações em massagem, educação para a saúde e programação neuro-linguísitca e atuação na Clínica Quan Yin. Terapeuta em Thay massagem certificado em Chiangmai, Tailândia.
De 1988 a 2002 foi aluno direto de Paramahansa Hariharananda, Mestre em Kriya Yoga formado no Karar Ashram de Puri, aluno direto de Yogananda e Sri Yukteshwar.Em 1997 David tomou o voto monástico na ordem Giri, recebendo o nome Sarveshwarananda (Alegria Divina em Todas as Coisas). Serviu Hariharananda como atendente pessoal até a morte deste último em 2002, entrando então em reclusão de silêncio até 2004. 
Renunciou ao monastério em 2009, servindo desde então como Yogacharya pai-de-família até hoje, com o nome Yogi Sarveshwarananda Giri. Atualmente reside na França, é casado e tem uma filha.
Atuou em diversas ações humanitárias, sendo fundador de organizações na Índia, EUA e América Latina, entre as quais a Arca do Amor Hariharananda SP, em São Paulo, Brasil.ERYT (Experienced Registered Yoga Teacher) registrado no Yoga Alliance. 


Com Amor,Yogacharya Céu D'Ellia

Introdução aos comentários de PARAMAHANSA HARIHARANANDA para a BHAGAVAD GITA



Estamos distribuindo gratuitamente, por e-mail, aos iniciados em Kriya Yoga de nosso grupo, a tradução dos comentários de Hariharananda para o primeiro capítulo do Gita.

Se você é deste grupo e não recebeu o link para download, entre em contato escrevendo para kriya@ailhadoceu.com.br , pois talvez seu e-mail esteja desatualizado em nosso mailing.



Se você conseguir tirar os sentidos dos cinco centros
inferiores do canal espinal que é Kurukshetra e focar
sua atenção para penetrar na parte de cima do crânio, 
que é Dharmakshetra, poderá então retirar
conhecimento da ignorância, honestidade da 
desonestidade, imortalidade da mortalidade. E então
poderá destilar a força espiritual que se encontra dentro
do crânio. (Baba)

A (ou O) Bhagavad Gita é um livro de infinitas camadas de interpretação, para todos os campos da existência.

Um texto tão antigo. E que teve suas linhas inscritas na história contemporânea em manifestações inesquecíveis:

Quando a primeira explosão de uma bomba atômica foi realizada, em Los Alamos, no alvorecer de um dia de 1945, e uma luz mais clara que o próprio dia iluminou o céu, o físico líder do Manhattan Project pensou nas linhas do Gita:
Se centenas de milhares de sóis surgissem a um só tempo no céu, eles talvez se assemelhassem à refulgência da Pessoa Suprema naquela forma universal... O Bem-aventurado Senhor disse: Eu sou o tempo, destruidor dos mundos...

Quando Ghandi, este grande personagem da paz, liberdade e busca do conhecimento encontrou a fonte para guiá-lo no maior exemplo de jornada política pela justiça social que conhecemos, bebeu das águas da Gita:
- ... É muito amado por Mim. Aquele que não perturba ao mundo nem é pelo mundo perturbado... Aquele que é igual para seus inimigos e amigos, aquele que considera iguais o sucesso e o fracasso...

O Gita pode ser um livro de devoção religiosa, uma investigação sobre a verdade, um poema canto filosófico transcendental.  Para nosso amado Baba Hariharananda é também um manual prático de instrução para a meditação perfeita, a prática de Kriya Yoga.
E o que segue são as primeiras linhas dessa interpretação: - Uma guia do entendimento dos nossos aspectos físicos, cognitivos e imateriais e de como se relacionam ao que identificamos como realidade (ou ilusão). E da libertação da identificação.

Agradeço o Amor que motivou a meu querido amigo e irmão Yogiji Sarveshwarananda Giri a me solicitar que colocasse algumas palavras aqui nesta página. Um pedido que não tenho como atender, porque se alguma palavra jamais puder ser escrita para introduzir o que segue, não será de minha autoria, mas apenas um reflexo da luz de nosso amado Gurudeva.

Com Amor, Yogacharya Céu D’Ellia, 
março de 2013, página introdutória aos comentários de Baba Hariharananda

Andando a esmo



Existem muitos mestres no mundo, mas existem muito poucos discípulos que são verdadeiros buscadores.
(Paramahansa Hariharananda)

Por que andais a esmo pelo campo? Para verdes um caniço agitado pelo vento? Ou um homem vestido de roupas finas, como vossos reis e vossos grandes personagens? Esses é que vestem roupas finas, mas não poderão conhecer a verdade.
(Jesus, logion 78, Evangelho de Tomé, Nag Hammadi)

O bode tem uma barba longa. Ele é um guru?
(Paramahansa Hariharananda)

E para aqueles que pensam que O conhecem, deixe-os conhecer. Quanto a mim, qual o alcance de muitas palavras, Oh, mestre? Sua glória não está ao alcance de minha mente, corpo ou palavras... O que não podem esquecer aqueles cujas mentes estão desnorteadas pelo véu da ilusão? Afinal de contas, este inteiro mundo ilusório consistentemente esqueceu a si mesmo. 
(Bhaagavata Puraana, Livro X, capítulo 14, 38/44)

Todo dia e noite são para você observar: -Quem sou eu.
(Paramahansa Hariharananda)


Lembrar


Uma jovem meditadora de nosso grupo de Kriya Yoga comentou hoje, referindo-se ao comportamento que temos uns com os outros na vida:
- Precisamos de algo ou alguém que nos lembre de quem podemos ser se agirmos com Amor.

Eu fiquei muito feliz ao ouvir essas palavras. Me pareceram tão precisas... Aprendi algo.

Então, eu disse isso pra ela. E ela respondeu:
- Ha! Ha! A meditação está influenciando demais no meu modo de pensar. Pensar com Amor.



O Sentido da Vida


A luta do Bem contra o Mal?
Essa ideia está enraizada profundamente nesta humanidade que conhecemos hoje. Seja através de ensinos de diversas religiões, ou de ideologias políticas. E mesmo, até mais amplamente, através da cultura popular e das histórias contadas em filmes, livros, novelas.

Sem pensar muito no assunto e tomando isso como uma verdade absoluta, a imensa maioria da humanidade se deixa absorver por essa crença: - De que existe um inimigo, que é o Mal, que precisa ser combatido. E sem perceber, por essa característica comum entre os seres humanos que é não vigiar com atenção, é exatamente essa ideia que alimenta ódios, preconceitos, guerras, hostilidades sem fim. Porque nesse equívoco, projeta-se o mal sempre no outro. Assim acreditam e assim se tornam agentes do próprio mal que dizem combater.
Mas é compreensível esse engano. É fruto de jogar o jogo do mundo sem realmente buscar sua essência. Se deixar levar pela correnteza dos fatos, sem buscar a consciência que transcende o próprio ego.
Porque existe de fato um grande desafio Espiritual em nosso mundo, que é a vocação maior e finalmente o tal Sentido da Vida.

Sim, a Vida tem um Sentido. Ou seja, Ela tem um propósito, um significado e uma direção.



A Vida é a oportunidade de realizar o Amor


Tudo, a todo momento, é um chamado para se optar ou não pelo Amor. É uma decisão que cabe a todo ser humano, a todo instante. Escolher ou não o Caminho do Amor. 
Pode-se trabalhar com Amor, respirar com Amor, olhar com Amor, pensar com Amor. Fazer sexo com Amor. Comer com Amor. Servir com Amor. Falar com Amor. Criar os filhos com Amor.
OUVIR com Amor.
Mas é preciso estar atento. Consciência totalmente concentrada, forte e  iluminada.


Amor, amor, amor - repete Hariharanandaji, desde e até o Infinito. E explica: - O Amor é o mais importante.

E o Amor tem esse poder sublime da expansão. Uma semente de Amor, é uma árvore gigantesca que certamente um dia dará frutos, flores e abrigo. Não existe nada mais poderoso, belo e livre do que uma árvore de Amor.
No entanto, há um grande risco ao se falar do Amor. Que é o risco de ser hipócrita. Porque falar com Amor, não é absolutamente a mesma coisa que falar do Amor. Eu posso falar do Amor com Amor. Mas é possível falar do Amor sem Amor, e desembocar em hipocrisia. Não é incomum políticos, artistas e guias espirituais se utilizarem do discurso que fala em Amor para disfarçarem suas ambições pessoais de poder.
Porque o Amor só é realmente Amor quando é Verdade. Quando vem de dentro, do centro de nossa Alma. Quando nasce na origem de nossa própria existência. Sendo nossa existência, ela mesma, o próprio Amor. 

Então é por isso que nós precisamos da meditação. Porque em primeiro lugar precisamos nos conhecer plenamente. Perceber a variação sutil de nossos diferentes ritmos cardíacos, nossas diferentes formas de respirar, e como isso está diretamente ligado a nossos pensamentos e interpretações do mundo e de suas verdades transitórias. 
E então, simultaneamente, viver o mundo. Trabalhar, compartilhar, agir. Aprimorar cada vez mais cada um de nossos gestos, em seus menores detalhes, até que nos tornemos instrumentos de Amor. E esse é o Grande Prazer, a Imensa Alegria. Acordar para nosso potencial Divino e fazer a única e possível verdadeira revolução: A Revolução do Amor. O Sentido da Vida.

Combater o Mal NÃO é a mesma coisa do que Acordar para o Amor. São focos completamente diferentes e os resultados são igualmente opostos. Combater o Mal, mesmo que com a crença pessoal de que está se fazendo o Bem, é alimentar a crença no Mal. Ninguém tem o conhecimento completo de todos os fatores envolvidos no complexo jogo da Vida para afirmar o que é o Bem e o que é o Mal. E o único combate que podemos realizar, é combater a ignorância. E a única ignorância que podemos combater, é a nossa própria.
E fazemos isso buscando dentro de nós a luz amorosa que nos faz enxergar o Caminho da Vida, que é o Caminho do Amor. 


Com Amor,

Yogacharya Céu
3 de Fevereiro de 2013

O que é meditar


Meditar é fazer o esforço de se aprender a amar.







Com Amor,
Céu D´Ellia