Programa de São Paulo de 2017, com Sarveshwarananda
E aconteceu em Sampa mais um programa de estudos e iniciação na meditação Kriya Yoga. Conforme ensinada por Paramahansa Hariharananda, seguindo a tradição do Ashram de Karar.
O programa foi guiado pelo Yogi Sarveshwarananda, que atualmente reside no ashram em Buenos Aires. Depois de São Paulo, foi para a França, para guiar outro programa.
Neste ano 2017, as atividades foram amorosamente programadas e dirigidas pelas Mamajis Cintia Lima e Camila Bogéa. Muita gente do grupo colaborou voluntariamente. Gratidão a todos.
Fico feliz que o grupo continue se desenvolvendo, gradualmente e com vivências tão amorosas. Desenvolver a maravilhosa paz interior, de onde nascem tantas coisas perfumadas e claras, só com respiração, e sem nenhum artifício químico ou culto ilusório a falsos mestres narcisistas.
Manter a disciplina da meditação diária e de algum trabalho voluntário, uma vez ou outra, mas sempre feito com alegria.
Eis um grande feito.
Boa libertação pra todos.
Nos vemos no Oceano de Luz.
Yogacharya Céu
Sampa, outubro de 2017
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Consciência do Nada
JIVA 4- PLANOS, desenho-litogravura de Céu D'Ellia |
O VEDANTA cita, entre os aspectos da mente, AHANKAARA.
Quem estuda sânscrito sabe que
traduções diretas das palavras são impossíveis ou, ao menos, não recomendáveis.
Meus professores desse idioma, que também são meus professores de meditação, diriam que o
significado do sânscrito só pode ser entendido, inicialmente, por aproximação
explicativa. E em seguida, mais que compreendido, “realizado” pela prática
constante da meditação.
Assim, uma forma aproximada de
entender AHANKAARA, é como o aspecto de nossa mente que faz a separação entre
“eu” e “outro”, ou “eu” e “resto do mundo”. É chamado também de semente da
separação. A separação, na consciência, do que se entende como “eu” e de “tudo
que não é o eu”.
Também podemos dizer, ahankaara é
o “eu que pensa que faz”, o “eu que pensa que é”. É aquela parte da mente que
esquece que o corpo é conseqüência de fatos e matéria que antecedem o próprio
nascimento. Que esquece que as próprias ideias, palavras, conceitos, existem
independe e anteriormente à percepção de “eu”. E continuarão depois da morte
desse “eu”, através do mundo e dos outros.
Costuma-se traduzir AHANKAARA
como EGO. Mas não é mesma coisa. O que se entende como ego engloba o ahankaara
e mais outros aspectos da mente. Poderia se dizer, de forma simplificada,
que enquanto uma pessoa que perde a noção de EGO, enlouquece, por outro lado,
uma pessoa que se liberta de AHANKAARA, alcança a consciência transcendental.
Ou seja, a consciência que vai além de si própria e que é capaz de enxergar o
outro como um fenômeno de uma só totalidade do qual todos fazem parte. Uma
consciência, portanto, que se torna compassiva, intuitiva e empática.
Dizemos também que ahankaara,
semente da separação, é assim também semente da “angustia primordial”. Um estado de desconforto atávico que todo ser humano comum carrega desde o
nascimento. Alguns com alguma consciência disso, outros com nenhuma. Uma
insatisfação, nunca superada, que procura ser preenchida por experiências
físico-sensoriais, emocionais e intelectuais. O motivo dessa “angústia
primordial” seria a separação que se dá na consciência, quando o ser deixa de
fazer parte do Todo e passa a se perceber indivíduo. Há o prazer de
se perceber existente e há a dor da separação da totalidade. Entre o prazer e
a dor, aloja-se a angustia.
Os aspectos da mente só podem ser
plenamente percebidos em estados específicos da própria mente. Perceba que “aspecto” e
“estado” são termos diferentes. Aspecto é uma característica, um elemento.
Estado é um local, uma instância.
A inter-relação entre aspectos e estados determinam o tipo (ou qualidade) de consciência de um ser
individual.
(Aqui, um parênteses...
Talvez a Fenomenologia, que é uma corrente filosófica surgida no Ocidente, bem no final do séc. XIX, tenha aberto espaço para se perceber, no auto-proclamado mundo ocidental, que as práticas orientais de meditação não eram meros rituais supersticiosos. Um discernimento que já se esboçava ainda algumas décadas antes, com as ideias filosóficas de, entre outros, Immanuel KANT e Arthur SCHOPENHAUER.
Talvez a Fenomenologia, que é uma corrente filosófica surgida no Ocidente, bem no final do séc. XIX, tenha aberto espaço para se perceber, no auto-proclamado mundo ocidental, que as práticas orientais de meditação não eram meros rituais supersticiosos. Um discernimento que já se esboçava ainda algumas décadas antes, com as ideias filosóficas de, entre outros, Immanuel KANT e Arthur SCHOPENHAUER.
Mas é apenas em meados do século
XX, com os avanços científicos nos estudos do funcionamento do sistema nervoso
central humano, que se começa a perceber que, além de fonte de reflexões
filosóficas, meditação é uma ciência que pode ser verificada empiricamente e
que tem gradações quantificáveis de desenvolvimento. O fato objetivo é que
descrições sobre o funcionamento da mente, registradas nos UPANISHADS em tempos
remotos, hoje são verificadas em laboratórios e análises do metabolismo
humano. Por exemplo, os chamados “estados da mente” e as hoje estudadas
variações das ondas cerebrais.
... que fecha aqui)
Meditação é, em primeiro
momento, uma prática de auto-investigação. Dependendo de algumas condições, torna-se um processo de discernimento do que é periférico e do que é
central no fenômeno da consciência. Na minha prática pessoal de meditação,
assim como no acompanhamento do desenvolvimento de meus alunos, percebi que, o
ponto de transição da consciência que supera a angústia primordial é aquele que
supera a identificação com a própria forma transitória. É quando a consciência
do NADA deixa de ser um medo, para ser uma fonte de paz e prazer.
É quando se percebe que a fonte
que alimenta a própria existência, o TUDO, é o próprio Nada.
A identidade deixa de ser uma soma de projeções periféricas e se torna a consciência pura de um EU central e vazio, completamente vivo e preenchido de NADA.
A identidade deixa de ser uma soma de projeções periféricas e se torna a consciência pura de um EU central e vazio, completamente vivo e preenchido de NADA.
TUDO que existe é a moldura de
NADA. Através de tudo, se realiza o nada. Através da consciência conciliada com
o nada, cada instante se torna único, inteiro, total.
Quanto mais um indivíduo é capaz
de se aproximar da consciência do Nada, mais ela/ele desenvolve qualidades de
integração, auto-consciência e prazer transcendental (ou não limitado por
circunstâncias materiais).
Yogacharya Céu
SP 10 out 2017
Yogacharya Céu
SP 10 out 2017
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