São Joãos

Na época em que publico este post, estão acontecendo as festividades de fogueiras no Brasil. Chamam de Festas Juninas.
Mas a origem dessas festas se mistura com as sombras mais remotas do passado, já que o culto à manifestação Divina pela contemplação do fogo, é possivelmente o mais antigo culto ao Divino em nosso planeta.
Dentro disso, na época de Jesus, surgiu a personalidade São João Batista. Os dois amigos espirituais, assim como na milenar visão védica, figuram a amizade divina, o mestre que se faz discípulo, do discípulo que se faz mestre. Nara-Narayana. 

Mas dentro de nossa sangha, são dois Joãos (Joões?) inpirados, que escreveram, cada um, um texto, com os quais posso aprender muitas coisas. Uma pequena dissertação, de João Fernandes. E um poema singelo (base reggae!), de João Roberto. Seguem:


DENTRO DE SI
por João Fernandes

Ser verdadeiro consigo é o único caminho possível para superar definitivamente obstáculos na vida e manter a cabeça saudável de modo perene.
Quem estaciona em comportamentos e atitudes interiores nefastas, prejudiciais aos outros, escolhe isso se recobrindo das mais criativas formas de autoengano. Por exemplo: uma pessoa invejosa, que se sabe invejosa, permanece nessa condição por sua própria escolha, pois escolhe se entregar de corpo e alma a desconversas e justificativas enganosas criadas pela sua própria cabeça, que a acomodam naquele enrosco interno.
Em vez de escolher retirar de si, imediatamente, todo o emaranhado hostil de sentimentos que enredam aquela conformação de caráter perniciosa, ela teima em murmurar, em se ressentir, em mal olhar, em praguejar, e se posiciona anestesiada contra a lucidez mais simples, expulsando-a de dentro de si.
Um dos resultados da prática constante desse tipo de autoengano, é a deterioração da memória: - de tanto fingir não saber de si, acaba se esquecendo mesmo, ao ponto de potencialmente gerar lesões neurológicas, buracos no tecido da consciência criados no contrapé daquele autoengano.
É nesta dinâmica de escolhas e atitudes interiores, que existe o significado do verbo “merecer”. Habituar-se a não mentir para si mesmo é um exercício de fortalecimento da memória e de limpeza da alma.


FIRMAMENTO
por João Roberto

A calma
Quem dita
É nossa alma.

Lembrança
Da bem aventuraça
Do sorriso
Quando criança.

No eterno
É nosso prazer
Queira ou não

Sois eterno,
Queira ou não.

O externo anda
No engano do tempo,
Não existe passado
Amado ou não
Nao existe futuro
Esperado ou não.

Teu presente

Concentre-se
No interno.

Neste mundo
Complexo
Dentro de você.

Além do físico
Além do ego
Sossego e calma
Com Alma



É mais do que demais

 Foto e performer: Vivi Medina
Guru é uma instância espiritual, um aspecto da Consciência. Não tem como passar pelo mundo sem viver isso. Até psicopata tem guru. Até quem nega guru, tem guru.

Até o supremo ignorante tem guru, sendo esse guru que o guia, a própria ignorância. Muitas vezes, encarnada.

Talvez um freudiano diga que o Guru é o superego. E um lacaniano, que sujeito suposto-saber. Mas isso ainda limita o Guru a campos mentais e psíquicos. A meditação profunda realiza instâncias não enquadradas nesse campo de forma, e onde o Guru também se manifesta.

Mas quanto mais ignorantes somos, mais obscura será nossa consciência de Guru. Mais projetada em um aspecto narcisista de nossa própria falta de identidade.

Guru não é uma pessoa transitória, mas pode se manifestar, passageiramente, em uma pessoa. Uma pessoa pode ser uma montanha, um verme ou uma coluna de pedra. E até um ser humano.

O Ser Humano que manifesta realmente o Guru, está liberto. Sat Maharishi. Gurudev.

Disse uma vez Baba, que se as pessoas que pretendem se tornar gurus, soubessem o que realmente é ser um Guru, fugiriam correndo.

O Guru é mais do que um arquétipo. É um dos dois pilares da Consciência, sendo, o outro, o Discípulo. Um é o melhor amigo do outro. Um Guru realizado é antes de nada um Discípulo realizado, que se rendeu e entregou totalmente a uma dimensão espiritual além da dualidade e do vínculo narcisista. Chittananda, Chittakasha. 

Guru real e Discípulo real são um Campo abençoado onde o Saber se manifesta. 

O Guru é Ser Transpessoal, uma guia além do indivíduo e que conecta a consciência humana à coletividade, ao senso ecológico e espiritual. A metáfora deste Mestre como uma Estrela Guia representa bem esse aspecto transcendental, guiando da ignorância, da falta de entendimento, para a consciência clara e liberta.

Guru verdadeiro é o que remove a obscuridade e faz a luz brilhar, trazendo clareza de propósito e desembaraçando verdade e mentira, libertando da ilusão. É Mestre que orienta no tempo e no espaço, aponta o caminho das estações, das estrelas e dos planetas, dentro e fora da entidade individual. Está em toda Jiva e está em Atmã.

Desacorrenta.

Envergonha os orgulhosos.

O Guru verdadeiro é bem duro com os mentirosos. Especialmente com os mentirosos que não sabem que estão mentindo. Porque o Mestre ceifa o que não frutifica e floresce.

Mas o Guru coloca em seus braços, nina e alimenta, os aflitos que têm sede de verdade. Porque o Mestre é pai e mãe. Ama o humilde e a criança. Protege os protetores.

Ele se prosta diante do Maior. 

Ele decepa a cabeça da mentira. 

Ele dá uma grama a mais do que recebe. 

Ele planta nos corações a semente da consciência da Eternidade.

É Luz em que se mergulha no Oceano da Glória Infinita. É mais do que demais. 

O verdadeiro Guru é a esposa do Amor e o esposo da Paz.

Jai Gurudeva: A vitória do Guru é que o Discípulo aprenda a lição. 

A única real conexão com o Guru é interior. Tenha cuidado com necessidade exagerada e compulsiva de demonstrar aos outros que tem essa conexão. Pode significar o contrário.